sexta-feira, 13 de abril de 2012

CRISTOVÃO TEZZA ENCONTROU JENNIFER EGAN



Queria escrever sobre o belo romance de Jennifer Egan que acabei de ler na semana passada - A visita do tempo cruel. Porém, me deparei com a notícia de que o livro de Egan está disputando com O filho eterno, de Cristovão Tezza o prêmio de €100,000 euros oferecido pelo IMPAC Dublin Literary Award. Tezza pode concorrer ao prêmio pois seu livro foi traduzido para o inglês por Alison Entrekin.

Evidentemente os dois não estão sozinhos na disputa - há mais oito escritores concorrendo. Seja como for, não podemos passar despercebidos ao fato de que nosso querido escritor Cristovão Tezza encontrou Jennifer Egan, a mulher de olhos azuis que derrotou Jonathan Franzen no Tournament of Books do ano passado. Se um deles ganhar vai se juntar a Javier Marias, Herta Müller, Michel Houellebecq, Orhan Pamuk, Colm Tóibin, Per Petterson, Colum McCann e outros ganhadores de edições passadas.

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Para mim parece surpreendente que Jennifer Egan de um chega pra lá em todo mundo que anda dizendo por aí que o romance está morto. Seu livro tem um pouco de tudo: esfacelamento do tempo, narrador em primeira e terceira pessoa, fluxo de consciência e até um capítulo em formato de Power Point - acredite se quiser. Fora a beleza da história cheia de uma urgência juvenil de enfrentar a vida sem saber de que maneira. As personagens erram muito, às vezes perdem feio e às vezes ganham aprendendo uma lição. Igualzinho a tudo o que acontece com a gente na vida real só que transformado em ficção.

Juro! Para mim foi uma espécie de catarse. Eu queria fazer parte daquela turma, dar conselhos para cada um deles, protegê-los das coisas ruins e tudo o mais. É duro constatar que tempo realmente nos alcança por mais que a gente tente correr dele. Mais duro do que isso é perceber que nós temos nas mãos várias possibilidades de fazer tudo diferente na nossa vida e que por obra do acaso (ou do destino, se você preferir) fazemos ao contrário do que realmente gostaríamos que fosse. Isso vale para a gente e para as pessoas que gostamos. O romance de Jennifer Egan é uma ode a vida - sem exageros.

(Estou me dando conta de que tudo o que estou dizendo está assumindo um tom piegas e sentimental, mas se você ler o livro vai entender do que eu estou falando).

Muita gente que leu O filho eterno, de Cristovão Tezza relata as mesmas sensações de catarse. Acontece uma identificação com a história daquele pai com o filho. Pode não ser um livro tão inventivo na forma (comparado ao Power Point de Egan), mas explora com maturidade impar a figura do narrador e suas ações de contar, mostrar e esconder. É um livro e tanto que ganhou diversos prêmios aqui no Brasil e garantiu a Tezza um reconhecimento merecido.

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Em tempo, o ganhador do IMPAC Dublin Literary Award será anunciado em 13 de junho. Bem antes de Egan vir à FLIP. Analisando friamente as chances do prêmio para nas mãos de Tezza são pequenas, mas elas existem. Cruzem os dedos.

*Imagem: reprodução do Google.
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