quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

POR QUE UM NOVO GULLIVER?

A Penguin-Companhia está lançando uma nova tradução feita por Paulo Henriques Britto para Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Trata-se de um livro publicado em 1726 cuja história foi tão incorporada por nosso inconsciente coletivo ao longo do tempo que já até esquecemos como de ler a história em sua fonte original. Portanto, não seria estranho fazer a pergunta: por que uma nova tradução para um clássico dessa natureza?

Antes de tudo esse livro tem uma enorme importância histórica para a literatura. Ele foi escrito mais ou menos entre 1713-1725 e foi publicado em 1726. Nesse momento a Inglaterra passava por profundas transformações sociais: a Revolução Industrial estava em pleno curso, as ideias iluministas estavam ganhando força e o gênero romance estava em plena ascensão. A publicação de Viagens de Gulliver aparece num momento em que os livros de viagens eram os tipos de romances mais populares. A intenção de Jonathan Swift era satirizar esses livros. Além disso, Swift queria ironizar o governo dos países europeus e causar uma reflexão acerca da corrupção dos homens quando vivem em sociedade.

Para nós, leitores brasileiros adultos, essa nova tradução nos salva de uma falta. Todo mundo sabe das dificuldades de encontrar uma edição de Gulliver com texto integral, longe das adaptações infanto-juvenis - o mesmo problema ataca os livros de Mark Twain e outros escritores antigos. Entendo que esse livro tenha um apelo de aventura e fantasia, mas a leitura do texto integral permite perceber claramente visão de mundo pessimista que Jonathan Swift estava imprimindo em seu herói.

Novas traduções de textos clássicos também são boas oportunidades de termos versões mais apuradas para uma história. Como o livro foi escrito há mais de duzentos anos, o tradutor pode refletir melhor sobre as palavras, os vocábulos, as imagens, etc. É a chance de um tradutor tentar se aproximar daquela tradução tão perfeita a ponto de não precisar de mais retoques.

Vale lembra que a tradução ficou a cargo de Paulo Henriques Britto - "poeta, contista, ensaísta, professor e um dos principais tradutores brasileiros da língua inglesa". Ele já verteu para o português mais de cem livros (pense em Elizabeth Bishop, Philip Roth, William Faulkner, etc.), tendo inclusive traduções premiadas. Também existem traduções do português para o inglês assinadas por ele.

Para completar, essa nova tradução vem acompanhada de diversos atrativos: prefácio de George Orwell, introdução e notas de Robert DeMaria Jr. (que organizou a edição) e diversas imagens preciosas e mapas de lugares citados no romance.

Todo esse capricho confirma a fama que a Penguin tem de renovar os clássicos - agora em parceria com a Companhia das Letras e em português.

*imagem: divulgação.
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