domingo, 29 de agosto de 2010

GORDON LISH, RAYMOND CARVER E SEUS CONTOS

Outro dia falei sobre os fascinantes contos do escritor americano Raymond Carver. Até comentei que tinhamos poucas traduções de seus livro no Brasil. Porém, para nossa felicidade, a Companhia das Letras está publicando 68 contos de Raymond Carver. Um volume da maior importâcia porque reúne em português contos dos seus principais livros: Você poderia ficar quieta, por favor?, Do que estamos falando quando falamos de amor e Catedral.

Na ocasião em que falei de Raymond Carver, deixei de mencionar uma polêmica que ronda a sua obra: a figura de Gordon Lish, seu editor na Knopf. Há uma história bastante curiosa na época em que Carver estava escrevendo os contos de Do que estamos falando quando falamos de amor. Antes da publicação desse livro, Gordon Lish tinha sido uma espécie de mentor e protetor de Carver. Por conta do alcoolismo, ele enfrentava diversos problemas financeiros e foi Lish quem o ajudou a publicar seu primeiro livro de contos em uma grande editora.

Três anos depois, Carver telefonou a Lish dizendo que estava escrevendo alguns contos que reunidos poderiam render um novo livro. Dessa maneira, Lish recebeu um volume de contos que lhe causaram verdadeiro espanto e começou a trabalhar na edição do material para publicar um novo livro. Acontece que Lish promoveu diversas alterações no volume original que recebeu: modificou o nome de algumas personagens, alterou o título dos contos e reduziu grande parte das histórias. Carver ficou assustado quando leu a versão final que chegou às suas mãos. Pediu a Lish diversas vezes que não publicasse o livro daquela maneira, por fim acabou cedendo à edição feita pelo amigo. Assim foi publicado Do que estamos falando quando falamos de amor.

Dizem que Lish, depois da publicação, espalhou diversas histórias falando que ele teria sido o autor de alguns contos escritos por Carver. O que fez com que muitos pensassem que Lish era o verdadeiro talento por trás de Carver. A amizade dos dois terminou. Anos depois a viúva de Carver com a ajuda de dois pesquisadores conseguiu recuperar os manuscritos originais dos contos que Lish editou. Em 2008 ela conseguiu publicar os contos na versão integral com o nome de Iniciantes - também publicado no Brasil pela Companhia das Letras.

Agora que temos essas duas publicações em português, fica difícil não dar uma olhada nas duas versões e comparar o trabalho do autor e do editor. O blog da Companhia publicou duas versões do conto Visor para quem tiver curiosidade. Eu, particularmente, confesso que gosto mais da versão integral como está em Iniciantes. E vocês, preferem qual versão?

*imagem: divulgação.

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